Jamais havia chorado mortes. E se foram muitos. Mas naquele fatídico domingo, acordara com sua mãe dizendo: “Sua avó se foi”. Imaginou que era brincadeira, que, de repente, vovó abriria os olhos e seu coração voltaria a bater. Resistiu a crer. Terminou de assistir seu DVD e deu início à faxina dominical. Espontaneamente, começou a chorar enquanto limpava a janela, que estava repleta de fezes de pombos. Não conseguia limpar e despejou sua raiva do mundo na escova com soda cáustica. Chorou compulsivamente para qualquer janela vizinha assistir. Depois da janela limpa, se entregou ao chão, lançando a escova direto para o lixo. Chorou e chorou mais. A ausência de sua avó no final do ano era dolorosa. Sua avó: exemplo de transgressão, generosidade, amor, humildade, dignidade e, principalmente, de muita luta. Vovó lutou e lutou para enfrentar preconceitos da sociedade. Lutou pelo amor à família. Lutou para criar filhos e netos. Lutou para ver sua primeira bisneta. Vovó era uma mulher daquelas, bem forte, falava palavrões, brincava, fazia piadas e aconselhava os netos como ninguém. Vovó é única que sabe fazer o melhor pão caseiro do mundo. A dor pela morte de vovó é muito forte e atravessa meu corpo. Odeio envelhecer e perder as pessoas que mais amo nesse mundo, e pior ainda: imaginar que outras também se vão. Não! Eu não quero perder minha família e tenho raiva deste mundo. Declaro, aqui, em primeira e em terceira pessoa LUTO.
28 de novembro:- lágrimas;
- dor;
- raiva;
- crises;
- surtos;
- LUTO
Pequena, choro junto contigo lendo essas palavras!
ResponderExcluirdoce abraço