Às vezes quando tudo parece partido. Repartido. Um sagrado conveniente. Algo caminha e intriga. Sete dias. Sete vidas. Sete lugares. Era ímpar. Assim como sua própria vida. Imaginava finais felizes, mas, no fundo, sabia que finais felizes faziam parte de uma fé amortecida e incandescida. Pura contradição da alma. Embora radicalismos lhe acometessem, sem limites, sem razão, pura emoção, acreditava em tais prelúdios de maturidade. Não queria dinheiro, amores ou qualquer outra coisa que lhe mantivesse certa razão ou horizonte. Queria beber da arte. Queria comer poesia. Hoje, declaro, em primeira pessoa, o primeiro (nada redundante) dia do início de meu testamento.
Dia 22 de novembro de 2010:
- Banho gelado alivia as dores da alma;
- Terminar um namoro em plena segunda-feira definitivamente não é um bom negócio;
- Comer polvo e alcachofra num restaurante por R$29,90 o quilo não é para qualquer um;
- Buzina de bicicleteiro é assobio;
- Doce casado na esquina engorda e muito;
Dia 22 de novembro de 2010:
- Banho gelado alivia as dores da alma;
- Terminar um namoro em plena segunda-feira definitivamente não é um bom negócio;
- Comer polvo e alcachofra num restaurante por R$29,90 o quilo não é para qualquer um;
- Buzina de bicicleteiro é assobio;
- Doce casado na esquina engorda e muito;
Ainda continuo na incessante busca pelo equilíbrio. Tentando a cada dia não alimentar energia negativa daqueles que, um dia, me fizeram mal ou me decepcionaram. Sim, guardo mágoa, mas me esforço para apagá-la. Não estou acostumada a ser agredida, nem meus pais gritavam comigo, por que devo tolerar outrem? As lágrimas escorrem e a mágoa arde no peito, como se queimasse as possibilidades de um horizonte mais leve. Tenho dignidade e, muitas vezes, penso em minha mãe: "Não vale a pena, filha" e com esse pensamento tendo a abandonar os projetos e as pessoas que me desagradam de alguma forma. Mas, descobri que este é um radicalismo. Então, penso a cada dia nesse testamento cotidiano: só por hoje.
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