quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Corpo morto


Sinto-me morta. Estas não são memórias póstumas, raríssimo leitor, e sim, memórias de um hoje não tão distante. Memórias de um corpo sem ar. Apenas coração. A vida lhe parecia tão sem graça, tão imperativa, tão certa de primeiras e terceiras pessoas. Será a morte mais divertida? Quiçá mais excitante? Cansava-se de tudo. Das pessoas. Das futilidades. Das humilhações. Das mágoas. Dos preconceitos. Das indignidades. Das baixarias. Cansava-se e tragava, a cada dia, um belo cálice de niilismo. Sua principal fantasia. Enrolava-se e rolava na grama ainda úmida. Uma grama fértil entre cruzes. Preferia os quadrantes, embora fossem caretas. Blergh! Odiava caretices e ostentava libertação. Sinto-me morta. Confusa entre meus eus. Já não havia mais respiração. Apegava-se a crenças tolas, que pudessem, minimamente, afirmar sua falsa fé. Não acreditava em nada, nem em si mesma. Sinto-me morta. Ainda não decifrei o porquê de pessoas com fé serem mais felizes. Talvez não tivesse fé. Afinal, era mais uma perdida, uma errante filha de Caim. Sinto-me morta.
01 de dezembro
- Um ombro amigo faz falta;
- Dignidade fala mais alto;
- A morte é uma boa preferência;
- Esperava cuidado de seu grande amor;
- Decepções rodeiam;
- Curau de milho do centro da cidade é irresistível;
- Quanta gente à beira de um surto...

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